Tem sido recorrente no Brasil, algumas pessoas saírem às ruas de verde e amarelo pedindo intervenção militar e a volta do AI-5. Esses indivíduos estão usando a sua liberdade de expressão para pedir a volta de um poder autoritário que cerceia essa própria liberdade.

Eis que surge a pergunta: devemos censurar essas pessoas? Devemos considerar essa atitude como ilegal e impedir que se manifestem novamente?

O problema intrínseco da liberdade é que os indivíduos nem sempre fazem bom uso dela. Porém, a história nos mostra que a tentativa de cercear a liberdade, com intuito de barrar atos supostamente indesejáveis, não acaba bem. Afinal, quem vai definir os limites da liberdade de expressão?

Quando se dá poder ao Estado para limitar esse direito, abre-se a Caixa de Pandora da censura. O poder tende ao crescimento e, a partir das brechas que abrirmos, ele crescerá gradualmente até tornar-se totalitário. As limitações de direito em prol da sociedade, logo tornam-se em prol do poder político estabelecido.

Portanto, por mais repugnante que sejam esses atos contra a democracia, devemos combatê-los no campo das ideias, sem jamais tentar censurá-los ou criminalizá-los.

Roger Scruton salientava que “tolerância não significa renunciar a todas as opiniões que outros podem considerar ofensivas. Toleramos justamente aquilo que não apreciamos, que desaprovamos. Tolerância significa estar preparado para aceitar opiniões pelas quais temos forte aversão”.

Além disso, a censura estimula a intolerância. Pessoas não deixarão de ter ideias idiotas só porque as proibimos de serem expressadas. Ao censurá-las, ao invés de extingui-las, estaremos apenas jogando-as em porões, onde tendem a se tornar ainda mais agressivas.

É muito menos nocivo e problemático deixar um idiota se expressar nos revelando ideias absurdas, que devem ser combatidas de imediato, do que deixá-las fortalecerem-se ocultamente, sem contraditório.

Por isso, reitero: ideias se combatem com ideias. Aquele que pede censura às ideias repulsivas que não concorda, está alimentando o monstro que irá devorá-lo.

O grande Rui Barbosa dizia que não merecem a liberdade aqueles que não sabem sofrer os males dela derivados e que usam de outros meios para derrotá-los, que não a própria liberdade.